quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Rotina

Ana se levanta às pressas, esta atrasada para o trabalho, tem acontecido muito ultimamente. Ralha consigo mesma por ter sido boba de ficar um pouco mais na cama. Corre para não perder o horário, mas o trânsito não deixa. “Maldito trânsito.”, pensa nervosa.


“Vinte e cinco minutos de atraso é uma amostra gritante de irresponsabilidade Srta. Ana.” As palavras rígidas do chefe ecoam pela sua cabeça como uma gota irritante caindo num balde de alumínio. Dor de cabeça. Aspirina. Horário do almoço.


Ana se dirigia à saída, pensava em aproveitar o momento para tomar uma água de coco de um moço que vende na porta do trabalho “Qual é mesmo o nome dele?”, tomar um pouco de ar fresco. Mas seus planos foram interrompidos por uma pseudo-amiga agarrando seu braço e a dirigindo até o refeitório. “Menina, não sabe da última, a Liz ficou com o Marquinhos ontem, ela diz que ele é óóóótimo blábláblá...”. Não conseguia prestar atenção, estava tão frustrada por não ter simplesmente se desvencilhado daquele pequeno ser estridente que esta na tua frente. Pede desculpas, se retira. Dirige-se ao filtro. Dor de cabeça. Aspirina. Volta ao trabalho.


Trabalho enfadonho. Chefe gritando. Colegas gritando. Dor de cabeça. Aspirina. Barulho de telefone, trânsito, vozes; parece algo arrastando no chão, mas Ana não consegue identificar. Fim de expediente. Estacionamento. Trânsito.


Elevador cheio, 17º andar, finalmente em casa. Tira os sapatos na sala, vai até a cozinha, enche uma taça com vinho. Pega aspirina na bolsa e toma. Escolhe um CD, uma coleção de músicas que o pai lhe deu, ele adorava violino, Ana também.


Senta no parapeito baixo da enorme janela de sua sala. Olha para baixo, pessoas pequenas, carros pequenos, luzes. “Uma queda e tanto.”, pensa. O vento bate gelado em seu rosto.


Levanta-se. Olha fixamente para a avenida abaixo de si. Relaxa. Adrenalina. Coração bate forte. Vento gelado cortando sua face. Dor?


Nayara Alkimim

2 comentários:

  1. Texto bacana. Durante toda a leitura, pensei que fosse seu ;)

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  2. Lindo conto, moderno e intrigante. Faz a gente pensar que a vida é uma eterna sucessão de repetições. Pensar que precisamos ir além, para nada cair na rotina e encontrar um sentido para a vida, mesmo que seja apenas um motivo tênue. Parabéns filhota linda!

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